O Campeonato Cearense de Futebol Feminino será decidido nesta quinta-feira (11), às 15h, no Estádio Domingão, em Horizonte. Ceará e Fortaleza realizam outro ‘Clássico-Rainha’, desta vez pela final geral da competição. As Meninas do Vozão venceram o primeiro turno, enquanto que as Leoas conquistaram recentemente o título do segundo turno. Nesta edição, o troféu entregue a equipe campeã terá o nome de Maria José Vieira, presidente do Atlético Cearense.
Em entrevista ao Portal Torcida K, Maria Vieira comentou sobre a homenagem promovida pela Federação Cearense de Futebol e relembrou do seu início de trajetória pelo Atlético: “Quando eu soube dessa homenagem da taça, primeiro eu fiquei surpresa e depois muito emocionada. Quando eu cheguei no futebol tiveram as aceitações e as não aceitações, através de palavras bem veladas. Então pra mim foi um misto de emoção, de agradecimento, de lembranças de como foi construído esse trabalho de 2016 até agora.”
Maria está na presidência do Atlético Cearense desde setembro de 2017, quando assumiu o cargo a convite do jogador Ari, que atua no futebol russo, e arrendou a equipe, transformando o antigo Uniclinic no atual Atlético. O clube se destaca principalmente no trabalho feito nas categorias de base. Maria é a única mulher mandatária de um time no Estado.
“Ter o nome nessa taça causa muitas perguntas, mas também responde muita coisa. Todo ano é indicada uma mulher para ter o nome na taça. Foi uma alegria muito grande fazer parte desse hall de mulheres fortes, com eu lembro que a Socorro lá da Federação foi nomeada, fiquei muito feliz, me marcou muito a nomeação dela, que cuida com carinho quando chego lá, é responsável pelo lanche, pela cantina. Mas não só disso, como de todas as pessoas que chegam lá. Eu achei muito significativo para a minha história de vida e acredito que para a história de vida de muitas mulheres. Porque sempre tem história”, disse.
Para Maria Vieira, a importância de ter o nome no troféu do Estadual Feminino não é apenas esportivo, mas tem relação com aspectos em outras áreas da sociedade: “Não adianta ser só uma taça que vai ser colocada na estante de alguém, tem que ser uma taça que provoque pensamentos e atitudes. Enquanto tem pessoas da política que tem cargos e posições importantes no Estado que falam contra a mulher e os seus movimentos, como o feminismo, essas pessoas estão na contramão do desenvolvimento feminino e, consequentemente, apoiando uma luta contra a mulher. Nós temos que começar a sonhar com movimentos que também apoiem a mulher. A não violência, a liberdade de expressão. Eu acho que a mulher jogando futebol é o máximo de liberdade que ela pode ter. É muito bonito ver as meninas jogarem. E a importância de ser nomeada é isto, assumir um papel de representatividade, é uma responsabilidade, um ‘madrinhamento’.”
A homenageada nesta edição também analisou a carência de categorias de base na modalidade: “Eu queria muito ser também nomeada para uma taça de um campeonato Sub-13, de meninas pequenas. Eu estou ansiando por isso, para ter o nome da taça do Sub-13. Por que isso? Porque nós ainda não temos meninas com liberdade de jogar, talvez em casa seja proibido, talvez no colégio seja proibido. Quais são as indagações que as pessoas colocam para essas meninas quando elas pedem para jogar futebol? Então eu anseio muito pelo futebol Sub-13, porque aí sim nós estaremos dando voz e vez ao futebol feminino do Estado, porque teremos um tempo para responder as exigências que o futebol feminino merece.”
Sobre a estrutura e o retorno financeiro para as atletas, Maria comentou: “Acredito muito que futebol profissional feminino deveria ter igual importância que o masculino, em relação a ter um estádio para jogar os seus campeonatos, não ser em qualquer campo, em relação as meninas serem remuneradas de forma que elas possam se manter no futebol e do futebol, e não que elas façam bico no esporte e tenham que fazer outros trabalhos. Que elas tenham condições de ser atletas, que tenham salários que sejam compatíveis.”
Questionada se podemos esperar um crescimento contínuo do futebol feminino no Estado do Ceará, Maria comentou sobre os problemas: “Depende de onde nós queremos começar esse futebol. Porque o futebol feminino ele nasce e morre todo ano. Ele já nasce com a idade grande (avançada), hoje já é possível ver a meninas de 17, 18 anos. Mas nós temos que ter muitos times de Sub-13, as meninas chegando cada vez mais jovens no futebol. Eu sei que tem, só não tem espaço para elas jogarem. Eu desejo muito que elas encontrem esses espaços e que sejam incentivadas a isso. Que elas possam ser vistas dentro de projetos e serem cuidadas, porque assim como existe a exploração sexual e o assédio dentro do futebol masculino, existe também no feminino. Temos que pensar em uma equipe receptiva e acolhedora, principalmente que seja um espaço seguro de desenvolvimento. O desenvolvimento que enfrenta muitas barreiras acaba não acontecendo.”
“Muitas de nós somos mães, somos esposas, temos que dar atenção à família, temos cólicas, TPM, tudo isso tem que ser visto com muita sensibilidade, e nem sempre estamos no mesmo nível de emoção. Então, para o esporte é importante ter esse acompanhamento. Preparar espaços para que elas sejam recebidas e cuidadas dessa forma, aí nós teremos um grande futebol de nível nacional e quem sabe de nível mundial. Mas isso só vai ser feito se for todo mundo, se todo mundo se importar. Se for só para a gente cumprir tabela, não sei se vai ter essa crescimento que nós esperamos. Eu espero que cada vez mais cedo as meninas, não só do Estado do Ceará, mas de todos os estados, cheguem à Seleção Brasileira”, finalizou.
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