Noite de terça-feira. A imponente Arena Castelão era, mais uma vez, palco de um dos capítulos mais importantes da história do Floresta Esporte Clube. Assim como em 2017, quando contrariou a lógica e ignorou o favoritismo do Fortaleza na final da Taça Fares Lopes, conquistando a vaga na Copa do Brasil do ano seguinte, o Verdão voltou a ignorar prognósticos e, com um time que mesclou juventude e experiência, desbancou o Ferroviário nas penalidades, garantindo, de forma inédita, sua participação na fase de grupos da Copa do Nordeste, em 2022.
Quem conheceu o Floresta apenas depois da façanha da Taça Fares Lopes, em 2017, pode achar que o caminho para o sucesso da agremiação foi rápido e sem percalços. Ledo engano! Antes de se tornarem protagonistas no futebol cearense, alguns atletas do Lobo da Vila tiveram de enfrentar um início difícil, sem a estrutura atual e com direito a viagens longas e sob forte calor, pela falta de veículos com ar-condicionado, por exemplo. Quem vive o glamour dos dias atuais mas já vivenciou os tempos de vacas magras, quando a equipe ainda era amadora, se emociona ao relembrar os caminhos traçados até o sucesso e saboreiam, de maneira especial, os louros da vitória.
Revelado no clube e um dos principais protagonistas de todos os feitos históricos do Verdão, o atacante Paulo Vyctor conheceu os dois lados do Floresta. Hoje com 25 anos, um dos poucos jogadores remanescentes dos tempos em que o clube era amador chegou à agremiação em 2010, quando, em vez do moderno Centro de Treinamentos, havia apenas o acanhado estádio Felipe Santiago. Com o sonho em se tornar jogador de futebol e sob o apoio incondicional de seu pai, que compartilhava com ele o desejo de vê-lo brilhar pelos gramados, o jovem talento de Jaçanaú, em Maracanaú, começou a trilhar sua carreira. O caminho foi árduo, a crença era de poucos, mas Paulo Vyctor manteve sempre a centelha do sonho em seu coração e buscou na alegria motivação para não desistir. Hoje, com muita estrada ainda a caminhar, mas com um belo percurso já andado, o jogador ainda não mensura o tamanho de suas conquistas, mas sabe que não pode parar, caso queira evoluir ainda mais no esporte.
“Foi uma caminhada muito difícil, muito batalhadora. Eu lembro que, na minha chegada ao Floresta, as condições não eram das melhores, mas a gente fazia de tudo pra ser feliz, né? Pra poder dizer que tudo que a gente faz é com felicidade e graças a Deus Ele está tornando isso muito melhor, muito grandioso. A gente não está tendo dimensão do que está acontecendo, tanto pra minha vida como também pro Floresta, que era de várzea, de subúrbio mas se tornou profissional e vem conquistando coisas muito grandiosas”, disse.
Experiências na Suécia e em Portugal
As belas atuações com a camisa do Verdão fizeram Paulo Vyctor chamar atenção de olhos bem distantes da Vila Manoel Sátiro. Em 2018, o jogador foi para a Suécia, onde se apresentou ao Atvidabergs FF. Já em 2020, Paulo foi emprestado ao Nacional da Ilha da Madeira, de Portugal. Nas duas vezes, entretanto, o jogador voltou para o Lobo. Um problema contratual e uma convocação do Floresta impediram que o jovem atacante alçasse voos mais altos no Velho Continente.
“Eu tive duas saídas pra times de fora do País, uma para a Suécia e uma para Portugal. A Suécia eu não fiquei lá por questão de documentação, um erro de documentação, não deu pra regularizar e eu tive que voltar. Pra Portugal, eu tive um período maior, onde tive um contrato de empréstimo de apenas seis meses e quando estava perto de acabar, o Floresta solicitou a minha volta pra me engajar no Campeonato Cearense, o time não estava indo bem, foi naquele rebaixamento que o clube teve da Série A do Cearense pra Série B, mas, enfim, isso é questão do Clube, questões de contrato do Clube e a gente tem que cumprir o nosso contrato”, explicou, com um tom contrariado.
Presença constante do pai, na vida e na morte
Em todos os percalços e alegrias de sua curta carreira, o atleta alviverde nunca esteve sozinho. Fosse em dia de jogos ou até mesmo de treinos, era comum notar, no alambrado, a presença daquele senhor franzino, olhos fixos no gramado, e com um chapéu que dificilmente o abandonava. Era seu Aloísio, pai de Paulo Vyctor e maior entusiasta de sua carreira. Mas, assim como no futebol, a vida também proporciona entradas duras e até mesmo desleais. Em 2020, pouco tempo antes de sua ida para Portugal, Paulo viveu a dor da perda do pai, após enfermidade.
Sem a presença física de seu maior ídolo e apoio, Paulo Vyctor transformou a dor em gratidão, o luto em força para vencer na vida e, hoje, foca em recompensar seu Aloísio, mesmo que em outro plano, por toda sua dedicação e incentivo.
“Ele foi fundamental na minha carreira. Desde os 7 anos ele sempre me apoiou, incentivou e eu acho que, se não fosse ele, eu não estaria onde eu estou, porque sem o apoio dele eu não teria chegado e me tornado um jogador profissional. Na época que eu cheguei no Floresta, eu não tinha tantas condições e meu pai estava lá fazendo tudo o que podia, arrancando o coração e as tripas para poder dar o melhor pra mim. Agradeço também à minha mãe, que me acompanhava sempre nos jogos, quando não era ela era meu pai, então só posso agradecer a Deus mesmo. Eu sei que, na noite de ontem [2], noite de finados, ele estava lá em cima olhando por mim, orando pelo Floresta e deu aquela força pra nós. Ele, sim, era um torcedor fanático do Floresta. De todos os momentos felizes que eu tive de título com o Floresta, de conquista, em três ele estava presente, que foi o Cearense Sub-20, a Taça Fares Lopes e a Taça dos Campeões e as duas maiores conquistas do clube, que foi o acesso para a Série C e a classificação para a Copa do Nordesteele não estava presente em Terra, mas estava presente lá no céu, orando, me iluminando e me guiando pelo caminho certo”, disse emocionado.
Hoje, vendo o sonho se tornando realidade, Paulo Vyctor olha para trás e relembra cada passo dado até agora. Apesar de o passado trazer boas lembranças mas também frustrações, o sentimento é de gratidão e de orgulho por estar escrevendo seu nome nos mais importantes capítulos da história do Verdão.
“Pra nos é um momento histórico, um momento único. A gente chegar na Copa do Nordeste, onde desde de criança a gente já assistia e imaginava em jogar a Copa do Nordeste e conseguimos, na noite de ontem, realizar esse sonho, de classificar pra Copa do Nordeste em 2022. Passa muita coisa na minha cabeça, muitas batalhas, muitas lutas e eu só tenho que agradecer a Deus por este momento e por estar fazendo história nesse clube”, disse.
Indagado sobre os planos para a Competição, o jogador disse que ela deve ser encarada com seriedade e trabalho. Entretanto, Paulo Vyctor cita outros dois elementos que acompanharam o time em suas conquistas recentes como ingredientes principais para que a equipe possa seguir surpreendendo e alcançando novos patamares no futebol brasileiro.
“A gente tem que trabalhar forte, focar no nosso objetivo é espero que, em 2022, a gente possa fazer uma bela campanha e que a gente consiga desfrutar dessa Copa do Nordeste com alegria, com leveza, mas com responsabilidade, pois sabemos que não é um campeonato fácil, que tem times grandes envolvidos, mas a gente sabe que, fazendo nosso trabalho com dedicação, com respeito, as coisas vão se encaixar e Deus vai nos abençoar”, finalizou.