Coluna Na Cara do Gol – por Hugo do Vale
Imaginemos a seguinte situação. Você até que é um profissional dedicado, mas sabe suas limitações, e por isso mesmo não tem confiança para executar as funções que lhe cabem. Agora imagine encontrar no seu trabalho um chefe que lhe inspira, que possui história brilhante na mesma área em que você atua, que é referência, líder, comprometido. E detalhe: ele chega exatamente para lhe orientar a ser tão bom quanto ele próprio foi, fazendo você se tornar vitorioso, campeão, forte.
Sabe o que acontece? Você compra a ideia.
Isso ocorre na nossa vida comum e também, claro, no futebol. No caso dos campos, que é nosso foco aqui, o jogador não só encontra sua forma física ideal como também consegue ser útil taticamente, colabora em conquistas importantes e chega a títulos históricos no clube que defende. É destaque nacional e, junto com seus companheiros, passa também a ser referência como equipe e estilo de jogo.
Ocorre que esse mesmo chefe toma uma decisão que deixa o jogador sem chão. Ele opta por mudar de ares e vai para outro lugar, deixando um sentimento de abandono e dando lugar para toda aquela insegurança retornar. A boa notícia é que dura pouco e logo ele retorna. Retorna, mas deixa no ar que outro abandono é iminente.
Diante da euforia e da dependência, fora as juras de amor declaradas, o alerta passa despercebido. Ora, a engrenagem voltou a funcionar! Até que um outro convite para ir embora aparece e ele se vai, sem tempo sequer para despedidas, num golpe que faz tudo se romper e desorganizar novamente, ainda mais quando se sabe que o clube não tem uma solução imediata. Sobra o desequilíbrio emocional.
Eu me refiro, lógico, a Rogério Ceni, ao grupo de jogadores tricolores e à instituição Fortaleza num período de 3 anos. Um clube que, vindo de um acesso para a série B após 8 temporadas, assume parceria com um mito enquanto jogador, mas iniciante como técnico. Uma química que deu tão certo que, a um só tempo, ganhou a simpatia de torcedores e dirigentes e criou uma relação perigosa de paixão.
Ninguém duvida ou discute a limitação do grupo de jogadores formado por Ceni. Do mesmo modo não dá para questionar a capacidade e a obediência tática de todos. A ida de Rogério ao Cruzeiro foi um recado e já devia ter sido o suficiente pra se pensar num plano B, um auxiliar técnico para se tornar efetivo. Ao mergulhar na ilusão do amor eterno, o Fortaleza deixou para acordar somente depois da saída do seu ex-técnico para o Flamengo e isso poderá lhe custar um passo pra trás.
O que acontece com o Leão neste momento é uma mistura de desequilíbrio emocional e deficiência na cobrança de seus comandados. Deixou-se formar um grupo com a quantidade mínima de jogadores à disposição e automatizados em diferentes formas de atuar, mas com o conhecimento e comando centralizados em Rogério Ceni.
Difícil para qualquer treinador que o substitua perceber isso e, mais ainda, quando descobre que não há tanto tempo para modificar. Chamusca, por exemplo, chegou e demorou para perceber. Quando optou, fracassou. Quando tentou retomar, sucumbiu.
Enderson chegou aproveitando o que já vinha sendo feito por Chamusca e vem cometendo o mesmo equívoco. Embora ganhando um jogo, perdeu logo em seguida e num momento onde vencer é a ordem.
A melhor saída para salvar tudo que foi feito ao longo desses três anos é esquecer Rogério Ceni, ter amor próprio. Daquela era, que já é passado, aproveitam-se as boas histórias e o sentimento de que, mesmo com todas as limitações, é possível sim continuar vencendo. E o mais importante: que paixão sem razão termina em desilusão.
* Coluna publicada às quartas-feiras.
Não acredito nessa dependência.
Temos vários exemplos. Telê, Luxemburgo, Joel Braga, Murici …
A empatia de Ceni não acontece no Flamengo?
E por onde passou?
Mesmo com a química apaixonante, tal dependência não se sustenta.
Entendo que as técnicas e empatia dos técnicos com seus comandados, não são eternas.
Por exemplo, a irregularidade do Ceará x mando de campo … é o mesmo time e, sem torcida. Fora de casa também é sem torcida.
Enfim, a contratação de um técnico mais técnico e com estratégias mais eficientes, quem sabe …
Aqui é a Mônica Souza, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.