Coluna Jogando em Casa – por Kaio Cézar
Quem pensou no nome Libertadores da América – referência aos líderes nacionais que buscaram a independência de seus países – certamente não imaginava a figura provinciana do meu amigo Ulisses. Apesar de bonachão, ele tem lá seus arroubos de insensatez, e na última revelou seu instinto de aldeota.
Basta falar na possibilidade de o Ceará ir para a Libertadores que ele surge com aquela convicção vesga, pensamento miúdo, dizendo que não passa de um devaneio. O que mais me marcou foi ele sentenciar logo depois de ver a vitória contra o Palmeiras: “se permanecer já é grande coisa”, esquecendo que o time chegou aos 45 pontos e que até uma vaga na Sul-Americana é quase certa.
A intenção dele, óbvio, foi desdenhar da capacidade do futebol cearense. Porém, mesmo sem querer, ele me mostrou o que, em verdade, mais importa neste momento. No caso alvinegro, a permanência na Série A para 2021, de fato, representa mais que qualquer classificação para uma competição internacional.
Explico.
O “fico” do Ceará na elite brasileira simboliza um novo tempo. É a quarta temporada seguida de um clube nordestino entre os 20 melhores do país. Mais. De um estado que há pouco padecia nas divisões inferiores, frequentando a Série A de vez em quando, ainda assim para, em bom cearensês, apanhar feito mala pra largar o mofo.
A presença do Ceará mais uma vez na principal divisão do campeonato mais importante do Brasil é um recorde para o nosso estado e indica a colheita de quem acumulou competência, suportou dificuldades e soube aliar paixão à gestão moderna e profissional. Assim como a bola não entra por acaso, a permanência tampouco. E é a continuidade entre os maiores que faz um time, de fato, tornar-se grande. Libertadores por Libertadores, até o Paulista de Jundiaí – com todo respeito – foi.
A relevância da permanência aumenta substancialmente quando saímos um pouco da bolha do futebol e nos damos conta de que todos atravessamos uma crise absoluta e sem precedentes, aguda, gravíssima, inclusive do ponto de vista financeiro, sendo que o Ceará atravessou 2020 sem muitos sobressaltos e projeta um orçamento para este ano de mais de R$ 150 milhões. “E isso com os pés no chão”, nas palavras do presidente Robinson de Castro.
Voltando à minha contenda com Ulisses, irônico “torcedor do futebol cearense”, mesmo com seus dilemas às vezes retrógrados, ele tem lá suas razões. Diante da atual circunstância, o Ceará seguir no pelotão de frente é sim grande coisa. A Libertadores talvez seja a cereja do bolo e, a exemplo dos heróis que inspiram seu nome, sirva também para abrir as cercas da aldeia que impedem o meu amigo de enxergar mais longe.
Ousadia
Interessante a entrevista de Guto Ferreira após a vitória contra o Palmeiras, no último fim de semana. Ao celebrar a chegada aos 45 pontos, que marcam a permanência na Série A, ele projetou as próximas seis rodadas como um espaço para “ousar”. Como tudo daqui pra frente é lucro, estou curioso para ver como o Ceará vai se comportar sem tanta pressão.
* Coluna publicada às quintas-feiras.
Concordo TB nessa linha de raciocínio que a continuidade (permanência) pelo 4 ano seguido é, de fato, o que mais importa. Representa a solidez de um trabalho até aqui, muito bem feito. Esperamos, como todo torcedor, muito mais, já que nós acostumamos muito rápido com coisa boa, claro! Rsss. Muito sucesso amigo….