Um ídolo, uma paixão que só se fortalece e um sonho. Desta forma, poderíamos resumir, de modo simplório, obviamente, a rica e vencedora história entre o meia Ricardinho e o Ceará. Cada vez menos comum no futebol, a longa trajetória do meia no Ceará gerou uma identificação entre atleta e instituição e foi um dos marcos do crescimento do Alvinegro nos últimos anos. Ricardinho não apenas ergueu troféus pelo time de Porangabuçu, mas também encheu os olhos da torcida com toques refinados e lançamentos precisos e foi um dos grandes agregadores dos diversos grupos de atletas que passaram pelo Ceará ao longo das oito temporadas em que o jogador defendeu as cores alvinegras.
Poucos sabem, mas a história de Ricardinho pelo Vovô não teve início em 2013, quando foi um dos destaques da equipe na temporada. O atleta veio para o Clube a primeira vez em 2007, por empréstimo junto ao Iraty-PR, mas não conseguiu de destacar e foi embora no final da temporada.
Porém, o gaúcho de Rosário do Sul daria a volta por cima e emplacaria nada menos que outras 7 temporadas no Alvinegro, sendo, em quase todas elas, o protagonista e capitão do time. Ao todo pelo Vovô, foram 325 jogos disputados, 39 gols marcados, além de 3 títulos estaduais, duas Copas do Nordeste e um acesso à Série A.
O portal Torcida K bateu um papo exclusivo com o jogador, que, recentemente deixou o Botafogo-RJ e acertou com o Paysandu-PA. Ricardinho falou sobre a química existente entre ele, o Ceará e o torcedor alvinegro, traçou planos para o futuro e disse ter o sonho de se despedir do gramados de futebol em um jogo com a camisa do Ceará.
Torcida K: Para esta temporada, você saiu do Ceará e foi encarar o desafio de subir o Botafogo-RJ. Gostaria que você fizesse um rápido balanço de como foi o seu ano no time carioca.
Ricardinho: Obrigado pela oportunidade em estar sendo entrevistado. Um ano muito positivo dentro do Botafogo, um clube gigante. Me senti acolhido, um ambiente muito familiar. Foi muito bom no sentido de aprender muito, eu fui em busca de jogar, de poder estender minha carreira. Acabou que não aconteceu tanto, mas as pessoas valorizaram muito o profissional e o ser humano Ricardo, para poder se sentir útil nesta gestão de atletas. Minha performance foi contribuir com pessoas e mudar o ambiente. Poder ajudar com essa conquista foi importantíssimo e muito positivo.
TK: Depois de tantas temporadas, maioria delas nos últimos anos pelo Ceará, como é que foi jogar por outra equipe? Foi estranho pra você, no começo?
R: Cria um desconforto quando começa a pensar em sair do clube, depois de muitos anos e muitas temporadas vestindo a mesma camisa, mas logo em seguida, você já vê como positivo porque começa a se conectar com novas pessoas, novos lugares. Começa a ver desafios pela frente, você começa a vivenciar diariamente. É algo desconfortável quando sai, porém, depois com as coisas acontecendo, você se sente em casa novamente. É uma adaptação rápida.
TK: Você segue acompanhando o Ceará, via TV, Internet? De certa forma, o Ricardinho ainda vive um pouco o Ceará? Tem contato frequente com os jogadores do clube, pessoas do clube? Como é esse relacionamento?
R: Com certeza continuo acompanhando o Ceará, sigo torcendo. Estou sempre falando com meus amigos, atletas, funcionários, com a diretoria em si, porque realmente temos um relacionamento muito bacana. Estamos sempre conversando, estou sempre na torcida querendo o melhor para o clube. Desejo que o clube sempre cresça, busque novos horizontes. É isso que o Ceará vem fazendo diante de uma gestão positiva.
TK: Em todos estes momentos já longe do Vovô, houve algum, seja um jogo em particular que você assistiu, algum momento nesta temporada onde o coração apertou? Tipo, bateu aquele sentimento de “eu queria estar aí” ou “eu tenho certeza que se estivesse aí estaria dando minha contribuição neste momento”?
R: Sentimento sempre foi de torcer, sempre de querer o melhor para o clube. Mesmo longe, acompanhando alguns jogos. Com certeza que se eu estivesse no clube, eu poderia ainda estar contribuindo. Minha cabeça estava no Botafogo, mas torcia sempre, os pensamentos eram positivos.
TK: Um ano praticamente depois de deixar o Ceará, o estilo de jogo do Ricardinho mudou alguma coisa, por conta da intensidade, por exemplo?
R: As minhas características todos conhecem: armação, passe, lançamentos, chutes a gol, bola parada, poder servir o time com assistências, além da liderança, poder agregar com o clube. Busco cada vez mais melhorar a parte física, tem consciência cada vez mais de detalhes a melhorar (parte física e técnica). Sempre ter excelência para poder produzir e estar no mesmo nível dos demais.
TK: Como está a cabeça do Ricardinho pra este novo desafio, agora no Papão?
R: Muito motivado com o novo projeto lá no Paysandu, desafio grande. Sei que a torcida é apaixonada, um clube que já está há alguns anos em uma divisão que não merece. O coração realmente transbordando para poder ajudar, fazer parte deste corpo, onde todos são importantes, onde todos precisam entregar seu melhor: presidente, diretoria, jogadores, comissão técnica e torcedores. Buscar esse propósito ao clube através de uma unidade de pensamentos.
TK: Mesmo que não seja agora, até porque você aceitou mais um desafio na carreira, você já faz planos de parar? Pensa em jogar até que idade? E já se prepara para este momento?
R: Não sei até quando Deus vai me permitir atuar como atleta, até que idade ele tem como propósito para mim. Com certeza sei que está mais próximo disso acontecer, mas enquanto isso, estou buscando conhecimento, estou buscando aprender sobre outras funções dentro de campo e também da parte da gestão, algo que realmente eu penso. Quero estagiar nessas áreas dentro e também da gestão. Quero que faça o maior sentido para mim.
TK: Após parar, pretende seguir no futebol? Ou tem outras pretensões? Se sim, qual seria a função e já se prepara para ela?
R: Pretendo ficar no futebol e estou me preparando para isso, quero estudar e ter novos conhecimentos para poder estar preparado para quando vier oportunidades.
TK: Uma volta ao Ceará está nos planos da carreira do Ricardinho? Fale um pouco sobre isso.
R: Planos de voltar ao Ceará… eu tenho na minha mente e coração fazer um jogo de despedida dentro do Castelão ou dentro do PV, com a presença do torcedor, que sempre apoiou e demonstrou muito carinho. Tenho isso no meu coração, quero proporcionar tudo isso, mas também respeito se não vier o convite. Não vai ser algo que vou ficar chateado, mas sonhando e imaginando com certeza teria que ser no Ceará.
TK: Em todos estes anos no Ceará, algum momento guardou alguma mágoa ou se sentiu injustiçado?
R: Meu sentimento no clube sempre foi de muita gratidão. Robson, toda diretoria, as comissões que aqui passaram, os atletas, funcionários… sentimento sempre de gratidão por tudo que proporcionaram e sempre me ajudaram. Mesmo quando não esteja jogando da maneira que gostaria, tu entende que tem outros profissionais que estão melhor e precisam jogar. Cada treinador tem sua opinião. Não quer dizer que você tem identificação dentro do clube que você precisa estar jogando sempre. Basta entender o processo e jogar da melhor maneira.
TK: Para encerrar: o que o Ricardinho, hoje com 36 anos, falaria ou aconselharia o Ricardinho lá do comecinho da carreira, quando ele começou a trilhar pelos caminhos do futebol? Faria algo diferente do que fez?
R: Teria muita coisa para passar pro Ricardinho quando começou no futebol. Tem muito mais abertura para os mais novos aprenderem. Eu aconselharia a importância de você performar e buscar uma alimentação regrada, saudável, correta pro teu corpo. Um investimento para a suplementação personalizada, além do descanso, a questão em dormir bem. Uma entrega para o teu coração, de buscar seus sonhos. É difícil, só acaba criando a maturidade com a idade, mas é um grande desafio de poder falar e o mais novo poder escutar. Aqueles que têm coração aberto vão ouvir, mas tudo faz parte do processo e do crescimento diário. É sempre entregar o melhor todos os dias independente se está jogando ou não. Entregue teu melhor, busque esses pilares. Cuide da família também. Tudo isso tem de estar debaixo de um grande propósito, que é poder entregar teu melhor diante de um dom que Deus te proporcionou, que é estar no futebol realizando sonhos e vivenciando isso aqui todos os dias.