Meio de transporte mais eclético e popular que existe, a bicicleta vem ganhando cada vez mais adeptos. Seja para ir ao trabalho, praticar esportes, dar um simples passeio ou até mesmo como forma de terapia, pedalar tem se tornado significado de praticidade e de cuidado com o corpo e com a mente. Para algumas pessoas, a prática do pedal tem adquirido um significado ainda mais profundo. Pedalar, muitas vezes, significa um novo recomeço, com mais saúde e qualidade de vida.
O vendedor Sérgio Macedo tem 62 anos. Quem o vê nos dias de hoje, saudável e com bastante disposição, não imagina que, há cerca de 15 anos, ele levava uma vida de sedentarismo e maus hábitos alimentares. Sérgio chegou, inclusive, a receber um ultimato de seu médico para que mudasse de hábitos, caso quisesse viver por mais tempo e com qualidade de vida.
“Eu cheguei aos 48 anos pesando 102 kg, totalmente sedentário, sem fazer atividade física nenhuma, comendo tudo, bebendo tudo. Um dia, falei com meu irmão, que é ortopedista, para extrair um cisto da minha perna. No procedimento, notei umas bolas amarelas no local. Perguntei a ele o que era e ele disse que aquilo tudo era gordura e que eu teria um problema sério, pois ali não poderia ter gordura. Me encaminhou a um cardiologista amigo dele que me colocou em uma esteira ergométrica e eu não aguentei 15 segundos. Ele, então, passou uma bateria de exames, que diagnosticaram uma arritmia complexa no ventrículo esquerdo. Eu tinha 48 anos e ele me disse que, se eu não mudasse de vida e não passasse a praticar uma atividade física para perder peso, infartaria antes dos 50”, contou.
A princípio, Sérgio não sabia que esporte seguir, pois todos eram muito severos para pessoas sedentárias como ele, até que um amigo lhe convidou para pedalar. “No começo eu disse, tu é doido, eu não sei mais nem andar de bicicleta, mas ele disse que quem sabia não desaprende. Então, eu comecei a andar, gostei e como em Fortaleza já tinham muitos grupos de ciclistas, eu comecei a pedalar com eles”, conta, enumerando os vários grupos pelos quais passou e as pessoas que o incentivaram.
Prática levou vendedor a longos percursos
Sérgio relata que, aos poucos, foi adquirindo resistência e que, com isso, os pedais foram ficando maiores e mais fortes, permitindo com que ele passasse a fazer trajetos cada vez mais longos.
“Fazia Fortaleza-Praia da Baleia, pela areia da praia; fizemos pedal para Canindé pelas serras. A gente saía de Fortaleza, ia pra Palmácia, voltava para Guaramiranga, subia a serra de novo. Eram trajetos de um dia e meio pedalando”, conta, citando outros itinerários, como Itapajé e Icapui.
O vendedor chegou a pesar 78 kg, mas um problema de saúde com sua esposa, em 2015, o fez largar, temporariamente, o pedal. Ele voltou a ganhar peso mas, com a recuperação da companheira, tornou a pedalar, onde readquiriu a boa condição física e retomou os longos trajetos de bicicleta.
De bike para o Cariri
No último dia 7, Sérgio quis comemorar seu aniversário prestando uma homenagem a si e ao ciclismo. O vendedor resolveu, então, realizar um pedal de cerca de 600 km até sua cidade natal, Missão Velha, no Cariri, para agradecer a vida nova que descobriu através do esporte. Chamou um amigo de pedal para acompanhá-lo e meteu o pé na estrada.
“Eu disse para ele que seria uma viagem turística, que não tinha hora para chegar. A gente iria parando nas cidades, tomando uma cervejinha, que eu gosto muito, dormindo nas cidades até chegar. No primeiro dia dormimos em Russas, no segundo dia em Jaguaribe e no terceiro chegamos em Icó. Lá, conhecemos uma turma de gente legal, pessoas do bem, ficamos tomando uma cervejinha e resolvemos dormir lá. O previsto era dormir em Barro. Eu já estava sentindo muita dor nos glúteos, mas comprei uma pomada e me mediquei”, conta.
No dia seguinte, durante a viagem, quando estava no município de Ipaumirim, a menos de 100 km do destino final, as dores acabaram por vencer o vendedor.
“Eu já estava com a região glútea em carne viva, e, como estávamos a apenas 90 km de distância do destino final, resolvi não brigar com o impossível. Paramos lá, tomamos uma cerveja e, no fim do dia, aluguei um carro que foi me deixar em Missão Velha, onde comemorei meu aniversário com a família e voltei de carro no domingo”, disse.
Mesmo com o trajeto incompleto, Sérgio enxerga sua história, num todo, como inspiração para pessoas que, assim como ele, precisaram e precisam adquirir hábitos de uma vida saudável. O ciclista pondera que o início é realmente difícil, mas que os ganhos em saúde e qualidade de vida são extremamente gratificantes.
“Aos que não praticam atividade física, procurem fazer uma, seja ela qual for. Atividade física tira 90% das doenças que você venha a sentir com a idade. Se não fosse a bicicleta, eu já estaria enterrado há 12 ou 14 anos. Mas graças a Deus, ela apareceu na minha vida e aqui estou. Completei meus 62 anos em uma viagem excelente, meu parceiro Fabiano (companheiro de Sérgio na viagem) que o diga. Ele disse que tem histórias para contar para os bisnetos dele (risos), só com essa viagem. Cansativa? Foi! Mas muito boa, divertida, foi show de bola!”, concluiu.
Do passeio ciclístico ao mountain bike
Atletas, sedentários, jovens, idosos, homens e mulheres. O ciclismo tem se constituído um esporte para praticantes de todos os tipos e gostos. Quem decide o ritmo da atividade é o próprio praticante. Basta avaliar o seu preparo e a sua resistência e regular o trajeto ao seu estilo.
Para quem curte um ritmo mais urbano, de pedalar no asfalto e sem grandes obstáculos, o ideal é o passeio ciclístico. A modalidade é a mais acessível e pode ser praticada com qualquer tipo de bicicleta. Existem diversos grupos que realizam estes pedais, geralmente à noite ou no início da manhã.
Um destes grupos é o Bilas do Sertão. Com passeios saindo do bairro Varjota, às segundas e quartas-feiras, sempre às 20h, às rotas são variadas e destinadas para iniciantes e intermediários.
“A gente percorre Fortaleza num raio de 25km a 30km e cada dia que a gente vai é uma rota diferente. Temos diversas rotas de destino, como Messejana, Parangaba, Riomar Kennedy, Lago Jacarey, Arena Castelão, Barra do Ceará, enfim, temos várias rotas diferentes”, informa o organizador do trajeto, Gilberto, que é proprietário de uma loja de peças e acessórios para bicicletas.
Segundo ele, os percursos sempre primaram pela segurança, que teve um reforço com o ganho de espaços exclusivos para este modal nas vias da Cidade.
“Hoje em dia está melhor porque a cidade de Fortaleza está cheia de ciclofaixas e a gente está, ultimamente, utilizando muito a ciclofaixa. A gente, antigamente, utilizava uma guia de rolamento, mas agora usamos a ciclofaixa”, relatou, acrescentando que o seu grupo já chegou a contar com mais de 400 ciclistas por passeio.
Agora se o seu estilo é mais radical e você curte pedalar por trilhas e contemplar trajetos off-road e em contato com a natureza, o mountain bike é a melhor pedida.
O estilo, entretanto, exige um pouco mais de preparo físico de seus praticantes e requer uma bicicleta mais elaborada que as bikes comuns. O custo médio de uma bicicleta para iniciar na modalidade custa cerca de R$ 3 mil.
“Na prática do mountain bike, se exige uma bicicleta no estilo mountain bike, que tenha uma suspensão, que tenha uma boa relação de marchas, que tenha pneus mais largos, e com cravos, porque o mountain bike consite em pedalar em contato com a natureza, em trilhas. Você vai andar em estradas de chão, em trilhas que a gente conhece com o nome de “single tracks”; você vai percorrer só regiões rurais praticamente, porque se anda pouco no asfalto”, explica o empresário e economista Edilberto Campelo, organizador do “Single Track Team”, grupo especializado na prática de mountain bike.
Segundo ele, para iniciar na modalidade é recomendado que, primeiramente, o ciclista adquira resistência em percursos urbanos. Há também, segundo ele, locais com trilhas adaptadas e sinalizadas para iniciantes que podem ser utilizadas a fim de que o praticante adquira mais experiência no estilo.
“Para as pessoas iniciarem no mountain bike, a gente aconselha ganhar um pouco de resistência, pedalando duas, três vezes por semana no asfalto mesmo, para quando ela tiver num melhor condicionamento, ela procurar participar de uma trilha com um grupo ou ir num “Bike Parking”, que, aqui na região Metropolitana, temos o Terra na Veia, que é um parque voltado praticamente para prática de mountain bike. Lá tem trilha de todo nível, do inicante até o nível mais alto, todas sinalizadas e com placas de informação, que são ótimas para quem está iniciando”, sugere.
Onde praticar:
Bilas do Sertão (Passeio Ciclístico)
Dias: Segunda-Feira e Quarta-Feira;
Saída: Às 20h, da loja Esporte & Bike, rua Ana Bilhar,1680; Varjota; Fortaleza-CE; Tel: (85) 32677425;
Destinos: Variados, percorrendo a cidade;
Suporte: Conta com carro de apoio com reboque para eventualidades;
Dica do passeio: De iniciante para nível médio.
Single Track (Mountain Bike)
Dias: A combinar, sempre no horário de 6h30;
Estilo: Trilhas semanais e gratuitas pela região Metropolitana de Fortaleza, com percursos que variam de 50 a 100km;
Desafios de mountain bike, em regiões mais afastadas, com percursos de 200km;
Suporte: Deslocamento de ônibus nos locais mais distantes e carro de apoio;
Dica de passeio: requer bicicleta indicada para a modalidade e boas condições físicas;
Contatos: (85) 99977-5074 / Instagram: @mtbsingletrack .
Show meu amigo, muito boa a reportagem espero que incentive muitos sedentários que existe em nossa cidade, e em um próximo longão que fizer mandarei o convite, um abraço e obrigado pela matéria 👍👍
Muito boa a matéria, Sérgio e Fabiano foram verdadeiros guerreiros ao enfrentar uma jornada tão longa, parabéns.