Edson Cariús foi o entrevistado desta sexta-feira (29) do Papo Campeão, apresentado por Kaio Cézar. O atacante de 33 anos comentou sobre sua infância, o início da carreira na várzea, a profissionalização tardia e sobre sua carreira profissional. Dentre os assuntos abordados, Cariús falou que ainda não conversou com o Ferroviário sobre uma renovação para 2022. Ele também revelou mágoa de algumas pessoas dentro do Fortaleza, mas apontou que está aberto a um retorno ao Leão se surgir uma oportunidade. Além disso, ele relatou as dificuldades enfrentadas na Arábia Saudita.
Na próxima terça-feira (2), Edson Cariús entrará em campo pelo Tubarão da Barra, no jogo de volta da terceira fase eliminatória da Copa do Nordeste, contra o Floresta, valendo uma vaga na fase de grupos da Lampions.
Passagem pelo Fortaleza
“Quando eu cheguei no Fortaleza, cheguei muito bem. No início de temporada, estava acima de todos que estavam voltando. Eu me preparei, consegui ir bem nos jogos que fui acionado, consegui marcar gols. Até hoje não entendo o motivo do que realmente aconteceu. Não tive essa explicação de ninguém do Fortaleza, o que realmente estava por trás de tudo. Eu tenho um carinho gigante pela instituição Fortaleza, pelo torcedor, que sempre tem me mandado mensagem de carinho”, disse o atacante.
Contratado para a temporada 2020, Edson Cariús marcou quatro gols em 16 partidas pelo Fortaleza. Porém, no meio do ano, acabou sendo emprestado para o Al-Jabalain, da Arábia Saudita. Depois, foi para o Remo. Ele comentou sobre sua passagem pelo Leão.
“Não irei citar nomes, mas tenho mágoas com algumas pessoas lá do Fortaleza pela forma como foi conduzida toda a situação. Não sei se o treinador antigo que estava lá, aconteceu algo que o treinador impôs para eles, não sei. O que realmente aconteceu comigo é que eu estava muito bem, todo mundo falava pra mim ‘vai continuar sim, você vai se dar bem aqui no Fortaleza’, comissão técnica, dirigentes e, do nada, sumiu todo mundo. E quando eu recebi a notícia ‘você não vai fazer mais parte do elenco, você vai ser emprestado, pediram para emprestar você’. Realmente algo que aconteceu, que me surpreendeu, porque eu não sabia o que estava acontecendo. (…) O carinho pelo clube, pelo torcedor continua e feliz por ter feito parte do Fortaleza, isso não posso negar. Mas saio sem saber realmente o que aconteceu. Por que fizeram aquilo.”
Questionado por Kaio Cézar se existe um desejo de retornar ao Fortaleza, Cariús deixou as portas abertas caso apareça uma oportunidade: “A gente sempre tem, se você perguntar a qualquer jogador do futebol brasileiro hoje ‘você quer ir para o Fortaleza?’, o jogador quer ir. Por tudo que o Fortaleza representa, o que o Fortaleza vem fazendo nos últimos anos, os jogadores têm esse desejo. Claro que se aparecesse a oportunidade, a gente iria conversar, ver o que era melhor. Mas como tenho contrato lá no Fortaleza e a prioridade de renovação também é deles, se isso viesse a acontecer, seria algo que a gente iria pensar e analisar com todo carinho”.
Vai renovar com o Ferroviário?
“No momento não tem nenhuma conversa sobre renovação com o Ferroviário. Ninguém da diretoria me procurou ainda. Acredito até porque a gente está nesta disputa (Copa do Nordeste), mas até o momento não tivemos nenhuma conversa. Claro que sempre que aparecer a oportunidade de estar jogando pelo Ferroviário, a gente vai pensar com carinho, vai analisar tudo, para tomar a melhor decisão.”
O jogo decisivo pela Copa do Nordeste
“Esperamos que, para que possamos fechar o ano com dignidade, a gente consiga a nossa classificação para a Copa do Nordeste. Sabemos que é uma competição importante para o clube, para quem vai ficar no clube, uma competição que tem uma visibilidade muito grande. A gente tem trabalhado bem essa semana, focado e determinado para saber o que vamos fazer no jogo, fazer o que o professor Anderson tem pedido, impor o nosso ritmo, jogar o futebol que ele tem pedido para a gente jogar. Esperamos fazer um grande jogo, já que vamos estar também diante da nossa torcida, há muito tempo que o torcedor do Ferroviário não comparece ao estádio. Esperamos fazer um grande jogo e sair com um resultado que nos favorece, que é a classificação.”
As dificuldades na Arábia
“A maior dificuldade que encontrei lá foi a questão da língua. Bem difícil, loucura mesmo. Foi muito difícil para mim. Tinha um interprete, mas era pra muita gente. O que eu trago de aprendizagem de lá, é que o Brasil deveria ter o que eu presencie lá. Em questão de estrutura, de condições realmente para os atletas. Eu estava em um clube da segunda divisão e eu consegui jogar contra todos os clubes que estava em nossa divisão, e todos com que eu joguei lá tinha sua própria arena, seu próprio estádio para jogar. É algo que você começa a analisar. Por que o Brasil não consegue ter isso aqui? O clube vai sair daqui pra jogar em outro Estado porque não tem condições de jogar aqui em seu próprio estádio.”
Entretanto, a passagem pelo futebol árabe não foi apenas de problemas, Edson comentou que aprendeu bastante e fez uma comparação com as estruturas existentes no Brasil: “Todos os estádios com muita estrutura para os atletas, muita condição para desenvolver o futebol, campos muito bons de treinamento. É algo que trago de aprendizado, que poderia ser implantando aqui. E a questão de calendário também, é um exemplo, jogos a cada sete dias e aqui a gente vê um calendário muito apertado, que tem dificuldade, com viagens, desgaste.”
Infância difícil
“Uma infância bem complicada, eu trabalhei na agricultura, eu com 10, 12 anos, já trabalhava com meus pais. Eu já via a dificuldade, eu presenciava a dificuldade dentro da minha própria casa, numa situação bem difícil, bem precária. A gente morava em uma casa de taipa, no sertão, no interior, lá em Cariús, em um sítio, não era nem na cidade. Eram sete filhos, com meu pai e minha mãe são nove pessoas. Morávamos em uma casa com um cômodo e uma cozinha. Já trabalhando na roça, mas sempre acreditando que um dia eu poderia vencer, nunca desisti. Meu pai e minha mãe sempre me aconselhando.”
“Estudava pela manhã e trabalhava a tarde. Uma vez mudei de turno, comecei a estudar a tarde. Na maioria das vezes que eu trabalhava pela manhã, eu ia para a escolha pra simplesmente, claro para aprender, mas com o pensamento de chegar lá e comer alguma coisa, por que na minha casa não tinha. A gente passou muita fome, eu não tenho vergonha de falar isso. E foram essas dificuldades que me fizeram crescer, pode ter certeza disso.”
Instituto Edson Cariús
No dia 12 de outubro, Edson inaugurou um Instituto que leva seu nome, localizado justamente em sua cidade natal. O objetivo é atender crianças carentes. A data foi escolhida não apenas por ser dia das crianças, mas também o aniversário do atacante.
“Era um sonho que eu tinha de um dia ter um espaço, um projeto social para ajudar as pessoas, essas crianças, os jovens, porque eu sempre precisei e precisava de um espaço como esse, para que eu pudesse ocupar a minha mente e eu não tive essa oportunidade. (…) Esse sonho começou a crescer dentro de mim e o futebol pode me proporcionar isso, fico muito feliz em ter conseguido esse projeto. Eu já desenvolvia esses projetos sociais na cidade desde 2016, mas não tínhamos o local, o espaço, desenvolvíamos de outra forma. Minha ideia sempre foi ajudar as crianças e os jovens.”
O Papo Campeão é apresentado todas as sextas-feiras, ao vivo, no canal da Torcida K no YouTube. O áudio fica disponível nas principais plataformas de podcast e também na programação da Rádio Torcida K.
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