Era tarde de sexta-feira. O telefone celular do paraibano Hélio tocou e, naquele momento, ele recebeu o que provavelmente foi a ligação mais importante de toda sua vida. Do outro lado da linha, eufórica, uma voz apenas disse: “Convocado! Agora, segura a onda que a CBF ainda vai anunciar!”.
A voz ao telefone era do empresário baiano Cacau, dando ao senhor Hélio Cabral, pai do atacante Arthur Cabral, ex-Ceará e hoje no Basel, a notícia de que, finalmente, seu filho fora convocado pelo técnico Tite, da Seleção Brasileira, para a rodada tripla das Eliminatórias da Copa do Mundo neste mês de outubro.
A partir dali, o maior incentivador do jovem centroavante da Seleção viveu um turbilhão de sentimentos e, imediatamente, foi remetido pela emoção a um passado difícil, de caminhos construídos por uma estrada cheia de lutas, decepções, mas, acima de tudo, de perseverança e superação. A convocação de Arthur veio coroar uma batalha cheia de renúncias, lágrimas e sacrifícios, que começou bem cedo para o jogador.
“O Arthur desde pequeno “tá na bola”, só que ele começou com a bola pequena, que é o futsal. Ele começou no futsal, lá no sub-7, sub-9, sub-11, e assim foi caminhando e depois eu levei ele para o campo e começamos a trabalhar ele. Ele foi no Fluminense, foi dispensado; esteve no Vitória, no Bahia, no Internacional e até no Palmeiras também. Ele esteve lá na base mas também não foi aproveitado. Aí, graças a Deus o Ceará deu essa oportunidade a ele, através do empresário Cacau, que é da Bahia, que conhece o Arthur desde os 14 anos e até hoje está junto conosco e aí começou a trajetória dele no Ceará. Hoje, graças Deus, estamos aí, na Seleção Brasileira”, contou.
Cedo, jogador deixa família em busca do sonho
A história do artilheiro da Europa nesta temporada, entretanto, teve muitos capítulos entre o início no futsal e a chegada ao Vovô. Aos 14 anos, Arthur já deixava o aconchego da família e partia em busca do sonho de se tornar jogador de futebol. O prematuro voo solo do jovem talento foi sempre incentivado pelo pai, afinal, o futebol também estava em seu sangue. Seu Hélio foi jogador de futebol na década de 80. Chegou a jogar no Treze-PB e no São Cristóvão do Rio de Janeiro. Como não viu a carreira decolar, trocou o futebol pela faculdade de educação física, onde se formou e, há 30 anos, trabalha como preparador físico. Atualmente, é auxiliar-técnico do Campinense. Por ser de dentro do futebol, Seu Hélio compreendia a distância e controlava a saudade do filho. Já outros membros da família não conseguiam ter esta percepção.
“Eu, por fazer parte do futebol, ter jogado, muito tempo de comissão técnica também, pra mim era normal, mas só que pra família, minha esposa, avó, os tios as tias, não. Eles achavam meio absurdo o Arthur com 14 anos passar seis meses no Rio de Janeiro sozinho. Aí ele foi pra Bahia, esteve em Pernambuco também e sempre viajou sozinho. Mas isso aí serviu como amadurecimento. O Arthur tem uma cabeça muito boa. É um menino muito bom, desde pequeno é um cara respeitador, um cara que sempre focou no que queria, que é o futebol, e eu também queria que ele fosse jogador de futebol, porque eu sabia que ele tinha futuro, tinha qualidade e por isso que eu e minha esposa investimos muito nele”, afirmou.
Da quase desistência à chegada no Ceará
A caminhada de Arthur pelo sul e sudeste terminava sempre em portas fechadas. Foi então que ele buscou uma chance no Vitória-BA. Não foi diferente. A reprovação no clube baiano chegou a arrefecer os ânimos do jogador, que quase desistiu de tudo. Foi aí que, mais uma vez, a figura do pai segurou os ânimos e a sorte do jogador começou a mudar.
“Teve um momento, quando ele voltou da Bahia, que ele ficou bem pra baixo, não queria treinar mais, eu fiquei meio cabisbaixo também, mas não desanimei. Fiquei sempre incentivando, dando moral a ele. Eu trabalhava num clube aqui da Paraíba, que disputava o Campeonato Paraibano e levei ele pra fazer pré-temporada comigo e aí ele começou a voltar, a gostar de novo do futebol e teve oportunidade de ir pra um clube lá de Pernambuco, que é o Barreira, que disputava o campeonato de base e através desse Barreira que ele foi para o Ceará. Aí, quando chegou no Ceará, foi aprovado e começou a se empenhar mais, ter mais foco e conseguiu chegar onde chegou”, relembrou.
Pai exigente e “puxões de orelha”
Daí em diante, todos conhecem a história do artilheiro europeu. Ascensão no Ceará, venda para o Palmeiras, onde teve poucas chances com o então técnico Felipão e a negociação para o Basel, onde explodiu. Mas quem pensa que a independência de Arthur no futebol fez com que Seu Hélio se afastasse do filho se engana. O pai do atleta conta que ele permanece sob sua orientação diária e que, quando necessário, até mesmo dá uns puxões de orelha no jogador.
“Eu sempre tô pegando no pé dele, não dou espaço pra ele. Qualquer vacilo que ele dá, eu vou conversar com ele, se tiver que puxar a orelha dele eu puxo a orelha dele, não tem isso não. Pode ter a idade que for, mas eu a mãe dele cobramos muito também. Tem que ter o puxão de orelha! Quando ele tá jogando, que ele faz alguma besteira dentro de campo, eu chamo ele logo, se ele começar a reclamar muito com o juiz eu também chamo ele. Na questão das faltas também, porque o atacante recebe muitas faltas, eu falo pra ele que atacante tem que apanhar mesmo, que tem que aguentar, segurar a onda. Eu sei que é chato estar apanhando mas é a profissão dele e a posição dele é uma posição que requer muita calma, muito sangue frio. Isso aí ele está assimilando bem e por isso ele está onde está. É muito difícil ele tomar cartão amarelo, por exemplo, porque ele é um cara muito controlado”, revelou.
Apesar de sempre ter tido esperanças pela convocação do filho, Hélio confessa que achava difícil que Arthur fosse lembrado jogando no futebol da Suíça. Confirmada a convocação do atleta, ele se diz emocionado e, por vezes, fica sem palavras para descrever o sentimento de ver o jovem atacante vencer no futebol.
“É muita emoção! Eu tinha expectativa pelo que o Arthur está fazendo. Ele vem fazendo os gols, fazendo boas apresentações e a mídia, todo mundo pedindo o Arthur na Seleção, pedindo a convocação dele. Eu tinha uma certa expectativa mas não muita, pelo Arthur estar numa liga fraca, como a Suíça, onde é até difícil ver os jogos dele, no Basel, mas eu tinha essa esperança. Foi muito emocionante, muito gostoso. Você ver o resultado de um trabalho de muito tempo, cara, e eu trabalhei muito com o Arthur, e… eu não sei nem o que falar. Em tempo de carnaval aqui o pessoal ia pro carnaval, a gente ia para a praia e o Arthur nem sequer brincava porque a gente levantava muito cedo e ia logo pra praia, com material de preparação física e ia trabalhar físico. Ele ficava irado comigo, porque eu não dava espaço pra ele. Foi muito sofrimento, mas graças a Deus tudo está correndo bem e, pra mim, é um prêmio muito grande”, celebrou.
“Faria tudo de novo”, diz Seu Hélio
Vendo o filho entrar definitivamente na briga para, quem sabe, ser até mesmo o “centroavante do hexa”, Hélio diz que todo o sofrimento valeu a pena. Para o dedicado pai de Arthur, o sucesso do filho é a colheita de uma semente plantada em conjunto por eles e que sobreviveu a duras frustrações durante todo o percurso.
“Eu diria que nada vem em vão. Tudo o que você planta, você colhe. E nós estamos colhendo agora o que a gente plantou há muito tempo. O Arthur com 13, 14 anos, naquele sofrimento, naquela batalha… Eu com a minha esposa descendo os campos de futebol indo pegar ele, viajando com ele, dando moral a ele… Ver que nós conseguimos… Isso, pra mim, é muito importante, muito bom… Me fogem até as palavras. Ele conseguiu esse êxito através de muita luta, muita batalha, muita força, muita determinação, muitos “nãos”, muito sofrimento, sabe? Muitas portas fechadas, mas graças a Deus, como diz aquele ditado ‘Quando fecha uma porta, Deus abre uma janela’ e foi por aí que a gente conseguiu passar e só temos de agradecer a Deus. Tudo o que Deus nos ajudou e se Deus quiser vai continuar nos ajudando, porque, modéstia à parte, eu fiz tudo por ele e faço tudo de novo, se for o caso. O Arthur é um cara muito especial pra mim!” concluiu.
Nossa!! Fiquei arrepiada com esse depoimento do Sr.. Hélio pai de Arthur. Sensação de fazer parte da família de tão alegre e feliz que estou. Lembrando aqui do último jogo do Arthur pelo VOZÃOOOO, eu tava lá no Castelão vendo ele sendo coroado e a torcida toda gritando nome dele, chorei de emoção e ontem chorei novamente quando vi que o menino e Rei Arthur finalmente tinha sido reconhecido. Voa garoto, nós estamos aqui pra ti aplaudir de pé.
Parabéns, primeiro ao pai Hélio (carioca) pela sua orientacao, e a Arthur pela sua perseverança, que Deus continue iluminando vc e sua familia
Parabéns Arthur, mais um Campinense pra orgulho de nossa cidade, Campina Grande merece ter mais um filho da terrinha na seleção Brasileira