Tenho uma vocação irresistível para acreditar no poder transformador das atitudes humanas e olhar para o futuro com bons olhos. Há dentro de mim sempre uma esperança de que uma hora ou outra alguma voz se eleva e questões até então complexas começam a ganhar contornos de transparência e verdade. Mas, confesso, não esperava essa coragem de ninguém que faz parte da Seleção “Brasileira”.
Por isso mesmo aguardei com cautela o manifesto que, segundo Casemiro em entrevista à TV Globo, representa a opinião conjunta de jogadores e comissão técnica quanto à realização da Copa América no Brasil. E me deparei, sem surpresa, com um completo disparate, um texto que certamente foi escrito antes de lavar as mãos.
Por um lado, há uma crítica à Conmebol – e a CBF? -, mas sem argumentos esclarecedores. Por outro, a decisão hipócrita e dissimulada de nunca dizer “não à Seleção Brasileira”. Uma carta política, dentro de uma debate inegavelmente político, com a intenção de negar a responsabilidade política de quem representa o futebol brasileiro num momento tão dramático.
Dessa forma, uma seleção que deveria representar o sentimento do país e com ele se comprometer, vai se posicionando – ou não – com seus jogadores “europeus” numa distância oceânica do seu povo, acenando com uma isenção imbecil e estéril.
Um manifesto tão ridículo e vazio que me faz rir – para não chorar – e, desse ponto de vista, pela desfaçatez e pelo riso, até me lembra as palavras de um cangaceiro de o Auto da Compadecida, obra do imortal Ariano Suassuna, no momento em que se viu diante de um falso dilema:

– Eu não gosto de matar bispo.
– Então não mate.
– Eu mato, mas não gosto.
(tiros)