Quem não conhece bem a história do Fortaleza e olha para o Tricolor neste 23 de setembro jamais poderá imaginar que, há exatos 4 anos, a equipe encerraria um dos capítulos mais tenebrosos de sua história e iniciaria um processo de decolagem que acontece até os dias atuais. Quem contempla a boa fase de um clube que está entre os 4 melhores do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil e que tornou-se modelo de gestão no futebol nem sempre pode imaginar quantas páginas não tão auspiciosas foram escritas para que a agremiação vivesse a apoteose dos dias atuais.
O ano era 2017, o dia, 23 de setembro. Em Juiz de Fora-MG, o árbitro Marcelo de Lima Henrique trilava o apito pela última vez naquele Tupi X Fortaleza, decretando a derrota do Tricolor por 1 a 0, no estádio Municipal Radialista Helenio. Mas o que, pelo resultado, seria um apito de frustração para o Leão, foi, na verdade, um apito de redenção e alívio.
Por ter vencido o primeiro jogo, na Arena Castelão, por 2 a 0, o então criticado Fortaleza, que fazia campanha irregular na Série C do Brasileiro e tinha em seu comando o contestado Antônio Carlos Zago, exorcizava traumas sofridos por Águia de Marabá, Sampaio Corrêa, Oeste, Macaé, Brasil de Pelotas e Juventude e deixava a tão sofrida terceira divisão do futebol brasileiro.
Fiel nos momentos difíceis, torcedor relembra calvário
Gozação dos rivais, trabalho questionável de alguns dirigentes e atletas, falta de credibilidade… Foram muitos os percalços do Fortaleza nos oito anos em que esteve no abismo da Série C. Essas lembranças, entretanto, já saíram da cabeça do corretor de imóveis Diego Roger.
Apaixonado pelo Tricolor, Diego acompanhou o Leão em todos estes anos difíceis. Fosse nos jogos em casa ou até mesmo viajando para acompanhar a equipe longe da Capital, o apaixonado torcedor de 35 anos esteve junto do seu time.
“Num desses mata-matas, eu cheguei a ir sozinho no jogo de Caxias, contra o Juventude. Eu acho que foi um ano antes. Cheguei pros meus irmãos e pros meus amigos e ninguém quis ir. Então eu fui, comprei minha passagem sozinho, sem conhecer ninguém. No aeroporto, vi uns caras com a camisa do Fortaleza, eu fui, sentei perto, conheci um cara que, por coincidência, era amigo do meu irmão e aí que me enturmei, fiquei junto com eles” contou.
Viagem longa e comemoração com acesso
No jogo do acesso, Diego não foi sozinho. Acompanhado dos irmãos e de amigos, ele embarcou para o Rio de Janeiro, na primeira etapa da viagem a Minas, levando consigo apenas o manto Tricolor e muita esperança de que os dias de martírio estariam chegando ao fim.
“Eu já havia viajado pra alguns jogos de mata-mata, esse o último jogo foi disputado fora e então a gente foi acreditando, todo jogo eu vou acreditando na vitória, acreditando que o time vai ganhar, que vai passar e naquela época de Série C da mesma forma. Eu, meus irmãos e uns amigos fomos de avião pro Rio, lá alugamos um carro e fomos pra Juiz de Fora, ficamos em um hotel e após o jogo foi só alegria, comemoração daquele jeito que a torcida Tricolor tá acostumada a fazer. Eu sempre acreditei do começo ao fim, sempre acreditei que o Fortaleza, mais cedo ou mais tarde, iria sair dessa situação porque mereceu”, relatou.
Se o apito final do árbitro trouxe euforia e alívio, os 90 minutos de partida foram de pura tensão. Diego conta que, sobretudo após o gol do Tupi, o Leão foi pressionado e que o tempo parecia não passar. Um teste para as coronárias no qual ele foi aprovado.
“Aquele último jogo ali em Juiz de Fora foi coisa para cardíaco mesmo e eu já sei que nunca mais vou morrer do coração. Se eu não me engano, o gol do Tupi foi já no final do jogo e o time pressionando e o Marcelo Boeck fez uma defesa do c… e eu acho que aquela defesa valeu como um gol, pelo acesso. Eu acho que o Marcelo Boeck, hoje, ainda, ele representa muito para a gente, tanto pela história que ele tem no clube desde a Série C e por aquela partida, aquela defesa foi f… . Eu olhava pros meus irmãos na arquibancada e a gente contando os segundos e aquilo ali estava sendo uma penitência muito grande e quando o juiz apitou o final a gente tirou assim um caminhão das costas, um mundo inteiro das costas. Foi um alívio muito grande”, disse.
Futuro promissor
Se o passado emociona e quase faz o torcedor leonino chegar às lágrimas, o presente do clube é encarado com um largo sorriso e com brilho nos olhos. Para Diego, mais do que vibrar com o atual momento do time dentro e fora de campo, é preciso olhar para trás, ter gratidão por quem alavancou o clube e, claro, planejar e sonhar com um futuro ainda melhor.
“De quatro anos atrás a gente nunca imaginaria que a gente estaria como estamos hoje. A gente deve muito à diretoria, à figura do Eduardo Girão, que foi um ‘paizão’ pra gente, ao Marcelo Paz, que o cara é um puta administrador e dirigente de futebol; o cara é muito bom. Naquele tempo de quatro anos atrás não tinha nem como a gente imaginar que hoje, depois de 4 anos, a gente estaria vivendo isso aqui. O que a gente conquistou durante estes quatro anos… É rezar para sempre aparecer dirigentes competentes no Fortaleza. Só temos a melhorar!”, finalizou.
Foi muito emocionante. No primeiro jogo estava com meus filhos tricolores, aí fomos para Minas Gerais, jogar contra o Tupi e graças a Deus fomos vitoriosos. Graças a Deus estamos colhendo tudo que passamos pelo esforço do nosso time. Obrigado!