O técnico Guto Ferreira concedeu entrevista ao radialista Elia Júnior, da Rádio Bandeirantes-SP, e falou sobre sua demissão do Ceará, após quase um ano e meio de trabalho. Comedido na palavras, o ex-treinador da equipe alvinegra disse ainda não ter entendido a razão pela qual foi desligado da equipe, porém, em alguns momentos, deixou transparecer que o trabalho do técnico Juan Pablo Vojvoda, no Fortaleza pode ter gerado o que considerou uma atitude precipitada por parte da direção do clube.
“Eu até agora tô procurando também [causa da demissão], mas chegou um momento onde, nessa ânsia do presidente de tentar solucionar da melhor maneira possível, ele optou por uma mudança, de repente trazendo uma outra peça como aconteceu… Uma coisa que a gente ouvia em alguns momentos ali dentro é que o nosso rival tinha um plantel que não vinha dando liga e chegou o Vojvoda e deu liga com os mesmos jogadores. Não foi bem assim, porque chegou o Titi, chegou Robson, chegaram alguns jogadores que agregaram à equipe, mas também teve o crescimento. E, daqui a pouco, essa ideia fica martelando na cabeça dele [Robinson]. Deve ter tido algum tipo de pressão externa que acabou fazendo com que ele tomasse a decisão. E, agora, volta a falar: decisão muito respeitada e eu não tenho nada para reclamar nesse momento. O que vai acontecer neste momento, eu torço para que o Tiago possa conseguir oferecer ao grupo aquilo que a gente não conseguiu”, disse.
Falta de peças atrapalhou evolução
Guto considerou que o elenco chegou a uma espécie de “teto” de rendimento e produção. Na opinião do “Gordiola”, não era mais o tipo de treinamento ou de esquema que fariam a equipe jogar mais, mas sim a chegada de peças que pudessem agragar às características necessárias para uma mudança de postura.
“O que precisa, dentro do futebol nacional, é ter pessoas conscientes do que o treinamento esportivo pode proporcionar. Até onde a melhora da equipe passa pela melhora do conjunto e até onde precisamos ter peças individualmente que tenham características diferentes para poder ter uma proposta de jogo mais diferenciada e para que possa agregar mais valores e ferramentas para a equipe e, com isso, possa ter um futebol não só competivivo, mas também mais vistoso”, afirmou.
O treinador também disse que o excesso de pressão e de cobrança em cima dos jogadores muitas vezes atrapalhou o rendimento da equipe. Segundo ele, é preciso que se tenha o discernimento de até onde um determinado grupo pode chegar com o material humano que possui.
“Essa visão do que ele tem na mão e até onde aquilo tá sendo produtivo, até onde pode ir. E isso também gera uma pressão muito grande em cima daqueles que tem que dar um retorno dentro do campo e essa pressão pode até atrapalhar a você tirar o máximo deles, até onde eles poderiam ir. Às vezes, o time chega num ponto que você tem que agregar peças. Não é só o treinamento que vai fazer dessa equipe uma equipe que possa ter algo mais. Tem que trazer uma ou outra peça que agregue um algo a mais em comportamento para que isso flua”, avaliou.
Treinador rechaça versão de que perdeu comando do grupo
Indagado sobre a possibilidade de ter “perdido o vestiário”, Guto considerou a hipótese uma piada. Segundo ele, sempre houve uma boa gestão de grupo durante todo o tempo em que esteve no clube e que o único jogador que foi pouco utilizado em sua passagem por Porangabuçu foi o atleta Yony González; mesmo assim, por opção do próprio jogador.
“De maneira alguma [perdi o vestiário]. Na hora que a coisa aperta e não existe justificativa, para onde você vai? A resposta: sempre vai cair na conta do treinador. Se eu mostrar a quantidade de mensagem que eu recebi de praticamente o plantel todo… Agora, existe um ou outro jogador que não agregou, que não trouxe retorno e, lógico, momentaneamente, estava, eu não vou dizer afastado, porque não estava, não estava sendo usado como deveria porque não estava tendo o rendimento que deveria. Agora se isso é perder o vestiário e se isso foi opção deles, então siga com os jogadores. Eu perdi vestiário, então… Siga com os jogadores… Um ou outro jogador, momentaneamente, porque em momento algum eu deixei o jogador afastado e deixei de utilizar, com exceção do Yony González, que, praticamente não rendeu nada desde que chegou e que pediu para sair e, por isso, não vinha sendo aproveitado. Foi o único jogador que não dá para se dizer que teve algum tipo de briga briga, ele foi respeitado sempre, estava treinando sempre, mas à medida que ele pediu para sair deixou de ser aproveitado em comum acordo com a direção. O que muitas vezes ocorre é que você necessita de uma ou outra peça mais qualificada, mas não adianta você trazer por trazer e o mercado precisa apresentar essa peça. Alguns jogadores, em algum momento vão sair também, porque o jogador que não vem sendo utilizado ele acaba, de alguma maneira, atrapalhando. É piada dizer que, de alguma maneira, nós perdemos o vestiário… Se a gente tivesse perdido o vestiário, uma semana antes, a gente teria feito o jogo que fizemos contra o Flamengo?”, indagou.
Por fim, o antigo treinador do Vovô fez uma crítica velada ao excesso de ambição no que diz respeito à equipe no Campeonato Brasileiro. Para ele, querer mais é sempre bom, desde que se tenha a noção exata de até onde se possa ir.
“O ser humano nunca está satisfeito e eu até acho que deva ser assim. Mas ele deve ter ciência de até onde ele pode ir com aquilo que ele tem na mão. [Com] Cem reais você tem que ser muito bom negociante e enganar alguém pra comprar alguma coisa que o valor é duzentos”, concluiu.
Assista na íntegra a entrevista de Guto Ferreira à Rádio Bandeirantes: