Coluna Na Cara do Gol – por Hugo do Vale
Começando pelo Fortaleza, o tricolor teve um desfecho de 2019 espetacular com a 9° colocação na Série A e a conquista da vaga para a Copa Sul Americana. Além disso, conseguiu não só manter a comissão técnica como também a maioria de seus principais jogadores, resultando na conquista do bicampeonato cearense já em 2020.
Contudo, o que parecia ser mais um ano de sucesso no Brasileirão passou a ser motivo de desconfiança a partir das eliminações na Copa do Nordeste, na Sul Americana e também na Copa do Brasil. Isso levou Rogério Ceni a modificar forma de jogar do time, com receio de ter um estilo de jogo já manjado pelos adversários. Ao mexer, passou a descobrir atletas que não serviam para a continuidade do trabalho, assim como exigir a chegada de reforços para repetir o feito do ano anterior.
O perfil dos novos jogadores não era exatamente o que Rogério queria e isso trouxe insatisfação, Porém, sabendo as limitações do mercado e também do clube, reinventou-se e fez mais uma vez do Fortaleza um time comprometido e obediente taticamente, chegando inclusive à primeira parte da tabela. O bom trabalho de Ceni chamou ainda mais atenção do Brasil e ele passou a ser a principal opção de grandes clubes que não vinham bem na competição. Fortaleza e Ceni, sabedores da saída frustrada do técnico ao Cruzeiro em 2019, trataram de se reunir e afirmar em público que continuariam a parceria até o fim do Brasileirão 2020. Só não contavam com o Flamengo, o até então melhor time das Américas que, depois de uma tentativa sem sucesso de substituir Jorge Jesus, escolheu fazer uma proposta irrecusável a Rogério.
Todos no clube tentaram demonstrar tranquilidade, mas o que aconteceu é justamente o contrário. Trouxeram Marcelo Chamusca, com passagem pelo clube, campanhas com direito a título. Chegou e adotou o estilo de observar e não mexer muito na equipe, só conseguiu uma vitória, contra o Botafogo. Foi demitido. Enderson Moreira, ex-Ceará, é chamado para o seu lugar e a história começa a se repetir, jogando um pouco mais consistente, mas sem vitórias, chegando à zona de rebaixamento.
Os matemáticos apontam que o Leão precisa de pelo menos três vitórias das oito partidas que lhe restam, incluindo confrontos diretos contra Vasco, Coritiba e Bahia. Situação delicada para um time que não consegue mostrar o equilíbrio necessário.
Virando a página, o alvinegro de Porangabuçu começou 2020 com a mesma pressão do ano anterior e pelos mesmo motivo. Escolha errada da comissão técnica. Argel Fucks, mantido, tem toda a condição de fazer um planejamento vitorioso com contratações importantes, destaques de várias equipes em diversas divisões e nomes conhecidos do nosso futebol. Sem sucesso. Argel não conseguiu agradar, nem ao grupo de jogadores, dirigentes, muito menos a torcida. Foi demitido e, para o seu lugar, Enderson Moreira.
O novo técnico conhecia boa parte do elenco, conseguiu indicar novas contratações ao clube. Ocorre que junto com a pandemia, que ninguém esperava, veio um convite do Cruzeiro, rebaixado para série B justamente ao recém-chegado comandante alvinegro e ele aceitou. Naquele momento o sentimento era de indefinição e preocupação, principalmente da torcida, pois o clube estava em competições importantíssimas como Copa do Brasil, Copa do Nordeste e Campeonato Cearense, além, claro, do Brasileirão.
Eis que chega Guto Ferreira, técnico com acessos importantes, como o do Sport em 2019, e passagens por clubes de ponta como o Internacional. De cara, Guto perde o clássico-rei, mas logo depois monta um time forte e competitivo. Consegue reverter a situação em relação ao rival, o eliminando da Copa do Nordeste e chegando ao título de bicampeão invicto. Avança na Copa do Brasil e ainda chega a final do Campeonato Cearense, perdendo, é bem verdade, para o Fortaleza. Mas até ali mostrava um excelente trabalho de recuperação e esperança por um Campeonato Brasileiro onde pudesse não só se manter, mas correr em busca de participar de um Copa Sul Americana.
O Brasileirão começou e com ele a continuidade da Copa do Brasil. Isso trouxe um desgaste para o elenco, e Guto teve que se reinventar como time, pois sua forma de jogar já tinha sido observada por seus adversários, sendo eliminado da Copa do Brasil, num jogo atípico contra o Palmeiras, onde tomou 3 gols em menos de 15 minutos no jogo da ida e não conseguiu reverter na Arena Castelão.
Essa derrota abalou um pouco o time, que demonstrou, no Brasileiro, atuações inconstantes. Foi aí que sabiamente o técnico alvinegro percebeu mudanças que poderiam ser feitas para o time reagir. Surtiu efeito e o Ceará começou a subir de produção e na tabela de classificação, ganhando partidas importantes como a contra o Flamengo em pleno Maracanã, e não à toa sendo o atual 11º colocado com mais de 90% de chances de Sul-Americana, quase 15% de Libertadores e praticamente 0% de rebaixamento.
Agora resta saber como vai ser o desempenho dos nossos dois principais times nos jogos de hoje (21), pelo Campeonato Brasileiro. O Ceará enfrenta o Goiás, fora. O Fortaleza recebe o Santos, na Arena Castelão.