Eu poderia começar este texto usando o velho jargão de que os opostos se atraem, mas prefiro ver de outra forma e afirmar que até mesmo os rivais dependem um do outro para se tornarem grandes. Repare, é na rivalidade onde há o encontro. E no caso dos nossos personagens, uma parceria duradoura e saudável.
Lídia Lima e Darlan Cavalcante moram no bairro Messejana, em Fortaleza. Os dois se conhecem desde a infância e foi nessa época que descobriram o amor pelo futebol, por consequência, a preferência da Lídia pelo Fortaleza e do Darlan pelo Ceará. O que era pra se transformar em barreira, acabou por unir o casal. A bem da verdade, houve muitas brigas, mas por amor logo estabeleceram uma regra tão difícil quanto fundamental.
“Não podemos fazer hora com a cara um do outro quando o time perde. Então nos dias de jogo, quando ele está assistindo o Ceará, eu normalmente não fico perto. Se a equipe estiver perdendo, também não falo nada. Em partidas do Fortaleza ele age da mesma forma comigo. Somos assim porque no começo a gente brigava muito e podia acabar terminando o namoro por causa de time”, disse Lídia, sorrindo.
Dessa forma o futebol lhes deu experiências muito valiosas. De frustração ou de alegria, todas inesquecíveis. Pra citar um exemplo, imagine ir ao estádio em dia de jogo do maior rival apenas para fazer companhia ao seu parceiro e bem no meio da torcida dele. O fato aconteceu algumas vezes entre Lídia e Darlan. Em sua experiência, a torcedora relata sobre o ocorrido de maneira risonha, mas relembra também o clima tenso.
“O Darlan tomou a decisão de ir pro jogo em cima da hora e insistiu para eu ir junto. Estávamos retornando da faculdade, mas eu aceitei e fomos. Ao chegar na arquibancada em meio a torcida do Ceará, o time do Brasiliense, adversário naquela noite, fez um gol e automaticamente eu gritei comemorando ali mesmo. Todos ficaram em silêncio e logo olharam em minha direção. Imediatamente eu percebi a besteira que tinha feito e me fiz de leiga no assunto, como se eu não tivesse nenhum conhecimento sobre futebol”, revela. Ainda sobre o ocorrido, a torcedora brinca ter dito “eu me enganei, achei que tivesse sido gol do Ceará”.
Outro episódio do casal que permanece há quase 14 anos juntos se dá em dias de Clássico-Rei. Darlan recorda com alegria como era a ida ao estádio antes da pandemia.
“Em dias de Clássico-Rei íamos ao estádio de carro com outro casal, que torcem times rivais também. Durante o caminho ao Castelão, sempre vamos ouvindo uma música do Ceará e outra do Fortaleza, de forma alternada. Então dá pra imaginar a comédia, pois eu vibro e canto alto a canção do meu clube. Logo em seguida, na vez do adversário, já estamos bravos”, relato o alvinegro.
Ainda segundo Darlan, ao chegarem no estádio as duplas se separam e brincam com a sugestiva pergunta: “com quem vai ficar a chave?”. Um momento delicado e também divertido, uma vez que a torcida do time perdedor é a que sai mais cedo.
Por conta da pandemia, o casal tem passado a assistir os jogos em casa, o que não é fácil. Quando é clássico, então, o confronto mexe com as emoções além do normal. Basta lembrar a última quinta-feira (10), quando o Fortaleza venceu o Ceará por 3 a 0 e se classificou para às oitavas de final da Copa do Brasil. Para Lídia, um momento inesquecível.
“Acompanhar essa classificação histórica do Fortaleza é emocionante e estou muito feliz. Mas foi um jogo nervoso, até para vibrar na hora dos gols tentei ser contida. Isso porque nós temos cuidado em não fazer algo durante a partida que possa irritar o outro. A reação dele foi de sair de frente da televisão por alguns momentos e, a partir do terceiro gol, saiu de perto para evitar estresse. Eu faria o mesmo”, finaliza ironicamente a torcedora.
Viu? Amor e rivalidade combinam. Pode até ser estressante algumas vezes. De toda forma, quando a união é sincera, o casal segue firme na derrota e na vitória, na rivalidade e no amor.
Feliz dia dos namorados!