Cinquenta e oito anos de idade, vinte e dois como treinador. Neste período, sete acessos em divisões do futebol brasileiro. Estes são os números de Flávio Araújo, um dos treinadores de maior destaque do futebol local e que, depois de 11 anos, está de volta ao Icasa, na tentativa de reerguer o Verdão do cariri e devolver à agremiação os dias de glória de um passado recente.
Flávio “Sapinho”, apelido que herdou do futebol, foi criado no tradicional bairro Joaquim Távora, em Fortaleza – local que também é conhecido como Piedade. O jogador teve passagens pelo futsal e também por times como Ceará e Icasa. Ao pendurar as chuteiras, a personalidade e a experiência o levaram para o cargo de treinador de futebol. Deu certo!
Em entrevista ao Papo Campeão, apresentador pelo jornalista Kaio Cezar, Flávio relembrou tempos de juventude, falou sobre a retomada icasiana e revelou projetos para depois que parar de treinar, além de um grande sonho. Flávio também aproveitou a oportunidade para cobrar da CBF um reparo a uma injustiça cometida contra o Icasa em 2013, ano que o Verdão deveria ter subido para a Série A do Campeonato Brasileiro.
Apreço pela alcunha “Rei do Acesso”
“Todo reconhecimento de trabalho é importante para o profissional. Queira ou não queira, esse titulo é um reconhecimento por todo trabalho que eu participei. Não só eu mas comissão técnica, jogadores, diretores… e o mais importante desse “rei do acesso” é que foi só em competições nacionais. Existem vários [reis do acesso], mas em competições estaduais. Estes 7 acessos foram em nível de futebol nacional. Isso me deixa muito feliz, como eu também fico muito feliz pelo Raimundinho, que conseguiu esse ano o seu primeiro acesso com o Atlético. O Raimundinho, que é treinador cearense, de Juazeiro do Norte, o Marcelo [Vilar] já tinha conseguido, o Oliveira, enfim, eu fico muito feliz por todos os treinadores do futebol cearense”.
Retorno ao Verdão
“Fui 6 anos jogador do Icasa, estou entre os 5 jogadores que tem maior participação de jogos pelo Verdão do cariri, parei de jogar em 97 pelo Icasa, em 98 assumi a gerência de futebol do Icasa e depois me torneio treinador. Quando eu assumi o Icasa 11 anos depois – meu último jogo foi em 20 de novembro de 2010, 2 a 2 com o Coritiba no Romeirão, quando o Coritiba foi campeão da Série B e 11 anos depois eu voltei. Me sinto muito feliz em Juazeiro, é minha segunda cidade, minha segunda casa, mas lógico que a gente tem que entender também a responsabilidade aumenta quando gera muita expectativa muito forte no nosso torcedor para que os resultados aconteçam e estamos trabalhando pra que isso aconteça”.
Resgate à credibilidade
“A minha ida para o Icasa, atendendo ao convite do Kleber Lavôr é no sentido de resgatar a confiança do profissional em trabalhar no Icasa, porque a grande verdade – é forte mas não podemos omitir: devido a essa crise financeira que o Icasa passa nos últimos anos, fica muito difícil contratar profissionais porque eles ficam com o pé atrás se vai trabalhar no Icasa e se vai receber, então a nossa ida pra lá, justamente, foi pra dar credibilidade de formar comissão, de contratar e de formar um grande time”.
Ano promissor para o Verdão
“O investimento do Icasa para 2022 está diretamente ligado à causa trabalhista da CBF. Se o Icasa conseguir ganhar essa causa, o Icasa tem tudo pra fazer um ano excepcional, porque vai ter Arena Romeirão, vai ter Série D, vai ter Série A [estadual], estamos na Fares Lopes brigando pela Copa do Brasil e vai ter o principal: dinheiro”.
Cobrança à CBF
“[É preciso] um reparo por parte da CBF de uma grande injustiça. Em 2013, o Icasa conquistou sua vaga. A equipe do Figueirense estava irregular. Em 2014, o Icasa era pra ter disputado a Série A. E a CBF reconheceu o erro. Então, por que não faz logo esse acerto? O ex-presidente [da CBF] saiu, comprou um jatinho quando a CBF já tinha um jatinho pra ele. Então, por que não reparar essa grande injustiça, que fizeram com toda uma nação, porque, sem exagero, o Icasa é a maior torcida do interior do Ceará, que está passando por um momento dificílimo por causa de uma injustiça cometida e também, temos que ser justos, por irresponsabilidade administrativa”.
Decisão de ser treinador
“Foi nos últimos jogos como profissional, em 96, 97… Os jogadores mais jovens e mais experientes disseram que eu ia ser treinador. Que eu tinha boa leitura, que eu sabia conversar, que eu era da bola… Então foi através dos próprios companheiros da bola que começaram a abrir meu caminho (…) o Kleber Lavor, que hoje é meu gerente de futebol, ele foi uma das pessoas que mais me incentivaram a virar treinador de futebol profissional de futebol. Teve uma influência profunda pra que eu tomasse essa decisão na minha vida. O Kleber é da bola e o Kleber sempre achou que eu seria treinador. Naquele tempo, em 98… Hoje em dia é muito fácil. Basta você pesquisar, você ler… Naquele tempo, não. Você corria na biblioteca atrás de um livro e você rodava várias e várias pra conseguir um livro pra você se atualizar”.
Futuro comentarista
“Na verdade, eu ia fazer comunicação social. Inclusive eu vou até revelar agora que fiz o curso de radialista. O que acontece: como comunicação social só tinha de 12 em 12 meses, quando eu fiz o vestibular não tinha. Me aconselharam a fzer história para depois passar pra comunicação social. É por isso que eu fiz história, apesar de eu gostar muito de história. Só que não consegui concluir, fiz quase 3 anos e não concluí. Mas o curso de radialista eu consegui concluir, em 2010, lá em Juazeiro, sob o comando do Toninho Vieira e hoje eu sou sindicalizado, pela APCEDEC e pretendo sim [exercer a profissão de comunicador], porque quando a gente ama o futebol a gente não quer sair. Quando eu pendurar a prancheta, eu pretendo ser analista, comentarista de futebol profissional”.
Falta de paciência com treinadores locais
“A paciência do torcedor com o treinador da terra – e isso não é só com no futebol cearense não; acontece no futebol pernambucano, baiano, carioca… A tolerância com o treinador local é muito curta. NO Fortaleza tive três oportunidades, me dediquei muito, mas, infelizmente, o trabalho não fluiu da maneira esperada, mas tem sempre a questão da paciência. A paciência com o treinador local é muito diferente do que com o treinador de fora, mas isso faz parte do passado, é parte do presente e vai ser parte do futuro e ninguém vai mudar isso”.
Sonho em treinar Série A
“Meu grande sonho é treinar um time da Série A do Campeonato Brasileiro. Enquanto eu tiver saúde pra ser treinador eu vou trabalhar muito pra que eu possa concretizar esse sonho. Seria super importante e marcaria positivamente a minha passagem no futebol como treinador. Sei que é difícil, mas o homem tem que ter um sonho, porque é o sonho que lhe fortalece, o sonho que lhe dá coragem e que lhe dá personalidade pra você seguir trabalhando”.
O Papo Campeão é apresentado todas as sextas-feiras, ao vivo, no canal da Torcida K no YouTube. O áudio completo da entrevista também fica disponível nas principais plataformas de podcast e na programação da Rádio Torcida K.