“Rei do Acesso” no futebol cearense, Washington Luiz celebra temporada e cobra capacitação acessível a treinadores

Se seu time está nas divisões de acesso do Campeonato Cearense e a meta é subir, não resta dúvidas: é só chamar o Washington Luiz que o acesso vem. A afirmação pode até parecer exagerada, mas os números do técnico cearense, de 39 anos e com passagem por diversos clubes, sobretudo do Cariri, justificam o otimismo de quem atrela seu nome a subir de divisão.

O acesso com o Iguatu este ano foi nada menos que o quarto consecutivo do treinador para a elite do futebol cearense – com três deles sendo campeão da segunda divisão – fora outros quatro acessos da Série C para a Série B. Isso sem falar nos títulos de Taça Fares Lopes ou de colocações honrosas, que qualificaram clubes emergentes do Estado para a Copa do Brasil e para a Série D do Campeonato Brasileiro.

Início da carreira aconteceu de forma inusitada

A trajetória do jovem treinador começou quase que por acaso, quando ele ainda atuava como jogador. Um convite inusitado para ser preparador de goleiros e uma reviravolta inesperada despertaram a paixão de Washington pela prancheta e pela borda do gramado.

“Quando eu tinha 26 anos, eu tinha acabado de ser campeão como jogador, da terceira divisão, com o Barbalha, com o Raimundinho [Raimundo Vagner, atual treinador do Atlético Cearense] sendo treinador. O Raimundinho acertou para treinar a categoria de base do Icasa e eu recebi o convite do Kléber [Lavôr, gestor histórico do Icasa], para ajudar ele na comissão técnica. Tanto eu como o Cabal, que é meu treinador de goleiros hoje em dia. Inusive, quando o Kleber fez o convite, o Cabal seria o auxiliar técnico do Raimundinho e eu seria o preparador de goleiros, porém, ali no meio do caminho, a gente acabou mudando e o Cabal foi ser o preparador de goleiros, enquanto eu fui ser o auxiliar. Ali, eu me apaixonei pela profissão fora do campo”, relatou.

Mas qual o segredo do jovem treinador para conseguir tanto sucesso com clubes de menor porte? Segundo ele, trabalho e um outro ingrediente que faz a diferença, sobretudo para quem lida com agremiações com pouca estrutura: a gestão de problemas, muitos deles provindos da falta de recursos dos pequenos clubes.

“O futebol cearense ele tem várias dificuldades. Inclusive, um diferencial para que você possa chegar é você ter a capacidade de solucionar os problemas que acontecem corriqueiramente. Um caso específico que eu posso contar pra vocês é que, em um destes acessos nessa sequência que a gente teve, nós terminamos a competição com a residência onde a comissão técnica morava sem água. Foi cortada a água lá da residência que a gente morava e nós tínhamos, por exemplo, que tomar banho no vestiário, porque sabíamos que, quando chegasse em casa, não teria água. E a gente teve a capacidade de superar este problema e conseguir acesso e título para essa equipe”, relatou.

O comandante também guarda consigo uma característica que, muitas vezes, é rara no mundo do futebol: a gratidão. Washington faz questão de relembrar profissionais que o ajudaram no início da carreira e de citar treinadores locais que ele admira.

“Um deles é o Raimundinho, que é o cara que abriu as portas para mim, que eu tenho uma dívida de gratidão muito forte para com ele, e o outro é o Flavio Araújo. Porque foi também o cara que me lançou no futebol profissional e que foi um treinador que, dentro do nosso futebol, conseguiu vencer. Permita-me também citar o Oliveira Canindé, que é um treinador que admiro muito por já ter, quinze anos atrás, alguns esquemas táticos que, para a época, eram diferenciados e a gente também acabou sugando algo dele” afirma.

Preterido por Ceará e Fortaleza, treinador diz compreender e não guardar mágoas

Indagado sobre decepção ou mágoa por nunca ter sido lembrado por um dos dois grandes clubes do Estado – Ceará e Fortaleza – o técnico não dá espaço para lamentações e adota um tom realista. Para ele, o momento atual que os dois times vivem demanda, de fato, treinadores de ponta do Brasil e até mesmo de fora.

“São dois clubes que, nos últimos anos, vêm se estruturando demais, vêm chegando muito forte na Série A, conseguindo classificações para Sul-Americana, então nós entendemos que, hoje, eles precisam, realmente, buscar treinadores de ponta do futebol brasileiro e, agora, até do futebol internacional, como é o caso do Fortaleza. Não tenho chateação alguma em não ter tido essa oportunidade ainda. Entendo que o trabalho e o sonho existem, mas nós temos que entender o momento e a situação dos clubes”, disse.

Cobrança por capacitação acessível para treinadores

Mesmo compreendendo que não seja o momento de estar nos clubes de elite do futebol nacional, Washington diz buscar se capacitar para chegar ao patamar dos grandes treinadores. O desejo do técnico, entretanto, acaba por esbarrar em uma dura realidade: a falta de condições financeiras para conseguir tal capacitação. A CBF oferece cursos com diferentes níveis de licença para que os treinadores possam se aperfeiçoar e trabalhar em diferentes centros. Os valores deste cursos, entretanto, são incompatíveis com o limitado patamar financeiro da maioria destes profissionais no futebol do Brasil. De acordo com o treinador, é preciso que estas capacitações tenham preços acessíveis e até mesmo sejam bancadas pelas entidades que comandam o futebol nos Estados.

“Eu acho importante o curso da CBF para todos os profissionais porque é uma troca de conhecimentos e seria importante todo mundo fazer. Acredito que estes cursos deveriam ser mais populares para que treinadores que tenham um patamar salarial menor e que tenham o desejo de buscar este conhecimento pudessem ter a condição. Eu tenho vários amigos que têm o desejo, que têm a vontade e não têm a condição. Eu me incluo entre estes porque estes cursos requerem de você um recurso financeiro alto que não é fácil de você levantar, então nós entendemos que poderia ser um pouco mais popular ou, quem sabe, que cada Federação, inclusive a nossa, pudesse premiar o treinador que viesse se destacando no seu futebol para ele fazer este curso”, sugere.

Por fim, o vitorioso treinador dá uma dica de como ter um time “Padrão Washington Luiz”.

“Um time do Washington Luiz precisa, acima de tudo, jogar num nível de vontade muito alto, é isso que nós colocamos para os nossos atletas a cada dia. Que joguem num nível de vontade muito alto, porque as ideias de jogo, os esquemas que a gente utiliza, eles vão ter uma variação com os anos. O futebol é uma coisa que evolui a cada dia e você precisa estar buscando conhecimento para que possa evoluir junto. Hoje, eu busco ter um time equilibrado, que marque forte, porém que possa propor jogo, que possa ser vertical, que busque o gol a cada momento. Anteriormente eu já tive um time mais de marcação forte, de saída de contra-ataque apenas; em outros tempos eu já tive time que buscava fazer jogo de posse de bola mais forte, enfim, a gente procura agregar todos os requisitos do futebol para nossa equipe, mas sempre buscando ser uma equipe equilibrada para que possamos desenvolver todas a ações do jogo e que isso possa nos trazer o resultado positivo, para que nós possamos nos manter empregados”, brincou.

Confira os números do treinador

Washington Luiz dos Santos

Nasc.: 20-09-1981

Acessos à Série B: Juazeiro (2009); Iguatu (2012) é Barbalha (2013 e 2017)

Acessos à Série A: Barbalha (2018); Caucaia (2019); Icasa (2020) e Iguatu (2021)

Títulos da Série B: Barbalha (2018); Caucaia (2019); Icasa (2020)

Títulos Taça Fares Lopes: Barbalha (2013) e Guarani (2016)

Demais classificações: classificado para a Série D com Guarani de Juazeiro e Guarany de Sobral.