O Ceará chegou, pelo terceiro ano consecutivo, ao mata-mata decisivo que apontará os quatro novos integrantes da elite do Campeonato Brasileiro Feminino. Nos dias 11 e 18 de julho, a equipe encara o Cresspom, em jogos que acontecerão no estádio Abadião, em Ceilândia-DF, e na Cidade Vozão, em Itaitinga, respectivamente. Nos últimos dois anos, o acesso alvinegro bateu na trave. Em 2019, as Meninas do Vovô foram eliminadas pelo Cruzeiro e, em 2020, perderam a vaga para o Botafogo-RJ. Agora, a ordem é virar a página do que passou e escrever um novo capítulo na história do clube. Dessa vez, com um final feliz. O desejo de vencer é geral, mas ninguém no elenco alvinegro está tão ansioso para fazer diferente em 2021 quanto a atacante Jady. Há 3 anos na equipe, ela participou das duas eliminações que custaram ao time a vaga na Série A1 do Brasileirão.
Da vida acadêmica aos gramados de futebol
A jogadora se inspira em sua própria história de batalhas e conquistas para fortalecer sua confiança e motivar as outras meninas do elenco. Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, a atleta de 30 anos encara os desafios da vida desde cedo. Por opção própria, saiu da casa dos pais aos 18 anos para estudar. Cursou, como bolsista, a faculdade de enfermagem e conseguiu se formar. Logo depois, iniciou um outro desafio acadêmico que, desta vez, não conseguiu concluir: o amor pelo futebol e o sonho de se tornar jogadora profissional falaram mais alto que o desejo de ser educadora física. “Depois de me formar em enfermagem, cursei educação física, mas abandonei a faculdade porque recebi um convite para disputar a Série A1 do Brasileiro pelo Vitória de Santo Antão. Abri mão da faculdade e fui para lá disputar a competição. Quando o campeonato acabou, recebi um convite para vir para o Ceará, que estava montando um projeto novo de futebol feminino e queria que eu fizesse parte dele. Então vim para o Ceará e estou aqui já há 3 anos”, contou.
Jady diz que o futebol feminino do clube evoluiu bastante durante esses 3 anos. A atleta enxerga o Vovô com totais condições de alçar voos mais altos na modalidade. “Quando eu cheguei, era um projeto novo, não tinha praticamente nada. Hoje em dia, temos tudo, todos os direitos trabalhistas, plano de saúde, estrutura, atenção. Aqui, o tratamento dado a gente é igual ao tratamento dado ao futebol masculino, aqui no feminino temos tudo”, avaliou.
Maturidade e confiança no acesso
A atacante se diz confiante de que, desta vez, não haverá lágrimas de decepção. Segundo ela, as derrotas anteriores serviram de aprendizado para os dias atuais e que o momento de conseguir o acesso chegou. “A gente, nos anos anteriores, também queria muito esse acesso, mas ele não veio. Só que, como tudo na vida, isso nos serviu de aprendizado. Particularmente, fiquei mais experiente, cresci nos meus erros, tanto na eliminação para o Cruzeiro e depois para a [eliminação] do Botafogo. Não era para ser; tudo é no tempo de Deus. Hoje, agradeço por estar mais experiente, evoluída e me tornado uma pessoa que cresceu com os erros passados. Hoje, estou com um pensamento bem positivo e confiante”, disse.
O ambiente leve do grupo e o bom trabalho do treinador da equipe, Jorge Vitor, são os grandes trunfos que o Ceará tem para fazer diferente na decisão deste ano, segundo Jady. Ela conta que o time viveu momentos difíceis recentemente, quando eliminou o Botafogo-PB, e que isso fortaleceu ainda mais o elenco para o restante da competição. “Nossa maior dificuldade foi contra o Botafogo-PB, que deu trabalho e que a gente pegou elas tanto na fase de grupos como no mata-mata. Inclusive começamos perdendo para elas no segundo jogo, mas conseguimos a virada. No intervalo, no vestiário, conversamos e dissemos que nosso grupo precisava se fechar em busca do objetivo; precisávamos de força, ter um grupo realmente bem unido. No início da semana, nas reuniões que a gente sempre faz, reforçamos este pacto, de nos unirmos e nos fecharmos para estes jogos das quartas”, revelou.
O grupo, por sinal, é bastante plural, segundo a atleta. Tem da jogadora mais sisuda àquela que gosta mais da tradicional resenha, brincadeira. O importante, na visão de Jady, é que há um grande respeito entre todas e que o grupo sabe diferenciar a hora da brincadeira da hora do trabalho. “É um grupo que se respeita muito, e que está mais unido que nos anos anteriores. Não que nos outros anos não houvesse união, mas este ano sinto que estamos ainda mais unidas em torno do objetivo”, considerou.
Vida pacata e vício em futebol, nas horas de folga
Fala mansa, olhar calmo e sorriso discreto. O jeito tímido da atleta reflete uma pessoa tranquila e pacata fora dos gramados. Seu passatempo favorito quando está longe dos jogos e dos treinos? Assistir a mais futebol. “Ah, eu sou muito tranquila, gosto de ficar em casa, assistindo jogos. Sou louca, viciada em jogos de futebol, inclusive estava aqui assistindo ao jogo da Espanha com a Itália pela Euro”, conta, no momento em que foi interrompida pelo repórter, que perguntou o placar. Ela informa que, até onde acompanhou, os dois times empatavam por 1×1, placar ratificado pelo assessor de imprensa da equipe feminina do Ceará, que também estava na conversa. Resultado atualizado, o papo seguiu. “Adoro estar em casa, descansando, assistindo aos jogos e dormindo. Como não sou daqui, moro em Itaitinga. Digo sempre que eu gosto tanto do Ceará que resolvi morar próximo à Cidade Vozão”, brinca.
Jady mora com sua companheira, Juliana, principal entusiasta e grande porto seguro da jogadora. Ela é o abraço que compartilha vitórias, mas também que conforta nas horas tristes. “Ela me apoia bastante, muito mesmo. Ela é quem está lá para me apoiar, para me levantar, para me ajudar nas horas difíceis e fazer com que eu não desista”, relata.
Sonho de vestir a “Amarelinha”
Como toda pessoa que luta por aquilo que almeja, Jady também traça objetivos e tem sonhos para a carreira. O reconhecimento do seu trabalho é o principal deles. “Ah, meu grande sonho é ser reconhecida e que o futebol feminino tenha um bom reconhecimento, que nosso trabalho seja bem reconhecido. O futebol ainda é muito desigual. Ainda tem muito preconceito. Já sofri muito preconceito por ser mulher e jogar bola. Ouvia sempre algumas pessoas dizerem que mulher não sabe jogar bola, que futebol não é trabalho, coisas desse tipo”, lamenta. Outra aspiração da “enfermeira-atleta” é um dos sonhos mais comuns entre meninas que jogam futebol: vestir a camisa da Seleção Brasileira. “Eu acho que toda atleta sonha em vestir a amarelinha, defender as cores do nosso país e ser reconhecida profissionalmente. Tenho sim, o sonho de chegar à Seleção Brasileira e vestir as cores do nosso país”.
Confiança no acesso e pedido de comemoração responsável
A atleta fez questão de deixar uma mensagem de confiança para o torcedor. Segundo ela, o grupo está fechado em sacramentar o acesso este ano e garante que o torcedor Ceará irá comemorar no dia 18, data da partida de volta contra o Cresspom. A atleta, entretanto, faz um pedido bastante especial a todos os alvinegros. “O torcedor pode esperar muita determinação, muita luta, muita garra da gente. Chegou a hora, a gente não pode deixar para depois. Pedimos que o torcedor nos apoie, mesmo de longe, nos assista e passe uma energia muito positiva, pois tenho certeza de que no dia 18 estaremos todos comemorando esta conquista. Só peço que todos comemorem em casa, com segurança, este nosso acesso. Acreditem, porque vai dar certo!”, finalizou.
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